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Casos de câncer devem se multiplicar nos próximos anos; entenda a importância do diagnóstico precoce

Os números são preocupantes: para o biênio 2018 – 2019 estimam-se mais de 600 mil novos casos de câncer no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). As notícias são ainda piores quando são projetados os próximos anos. Projeta-se que, em 2030, os casos da doença dobrem em todo o mundo, na comparação com o que existe atualmente. E o que estava no campo de visão dos especialistas já se tornou uma realidade em Porto Alegre: a mortalidade por câncer atingiu o mesmo patamar das doenças cardiovasculares, que eram a principais causas de morte entre os problemas crônicos não transmissíveis.

Dados apresentados no Fórum Sul de Políticas de Saúde em Oncologia, organizado pelo Instituto Oncoguia, em Porto Alegre, na semana que passou, revelam que ambas são causas de 24% das mortes, conforme levantamento do Sistema de Informação de Mortalidade. Essa alta na incidência é impulsionada, principalmente, pelo envelhecimento da população e também pela incorporação de fatores de risco relacionados aos nossos hábitos de vida.

— Há causas para o câncer que não conseguimos prevenir, como alterações genéticas ou mutações celulares. Mas há uma série de fatores que são modificáveis, que entram como prevenção. São eles: evitar a obesidade, praticar exercícios físicos, ter uma alimentação saudável, com frutas e verduras, fugir das bebidas alcoólicas e combater o tabagismo, que está relacionado a uma infinidade de tumores, não só de pulmão — explicou a oncologista Ana Gelatti durante o fórum de oncologia.

Além do fator prevenção, o evento ainda discutiu a importância do diagnóstico precoce, tanto do ponto de vista da cura do paciente quanto da farmacoeconomia, que é o balanço entre o custo e o benefício de medicamentos e procedimentos.

— Precisamos trabalhar o diagnóstico precoce porque, infelizmente, aproximadamente de 60% e 70% de todas as neoplasias (tumores malignos) são diagnosticadas em um estágio muito avançado. Em relação ao pulmão, por exemplo, o diagnóstico ocorre, em torno de 60% das oportunidades, em estágio quatro, que já é metastático — complementa a especialista.

Nesse ponto da doença, destaca a pesquisadora do Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital São Lucas, há uma série de tratamentos possíveis, contudo, dificilmente eles serão curativos. Para virar esse jogo, os médicos batem na tecla da educação da população, tanto no que diz respeito à mudança de hábitos quanto na procura por médicos e na realização de exames de rastreamento.

O diagnóstico

Há um consenso de que certos tipos de câncer já têm um trabalho bem estabelecido de prevenção e diagnóstico prematuro. O de mama é um bom exemplo disso: além do Outubro Rosa, médicos e pacientes se organizam em prol da causa, disseminando informações e estimulando a realização de exames.

Foi exatamente isso que aconteceu no ano passado com Clarisse de Saibro, 38 anos. Durante o mês de combate à doença, a empresa na qual ela trabalha abriu as portas para uma palestra do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA), ONG associada à FEMAMA em Porto Alegre (RS), na qual foram apresentadas orientações sobre autoexame.

— Pensei: “Será que paro para ouvir?”. Aí virei e prestei atenção em tudo. Voltei para casa, fiz autoexame e não senti nada. Depois, expliquei tudo o que aprendi para minha mãe, irmãs e amigas — relembra.

No mês seguinte, Clarisse conta que sentiu muita dor nos seios durante a menstruação. Seguindo as recomendações das palestrantes do IMAMA, ela apalpou as mamas no quinto dia do sangramento.

— E lá estava o nódulo.

Foi o que bastou para adiar as tentativas de engravidar, entrar em contato com a ginecologista e realizar os primeiros exames: uma ecografia, uma mamografia e uma biópsia, esse último que confirmou a suspeita de câncer de mama. Encaminhada para a mastologista Maira Caleffi, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, Clarisse refez os exames e, no dia 12 de dezembro, fez a cirurgia de retirada da mama esquerda.

Na sequência, fez 16 sessões de quimioterapia, vai continuar o tratamento com radioterapia e hormonioterapia e, hoje, considera-se curada e pronta para realizar o sonho de ser mãe.

— Quando senti o nódulo, ele estava com dois centímetros. Se o IMAMA não tivesse ido na minha empresa, se eu não tivesse prestado atenção, talvez eu tivesse o tumor até hoje, ou grávida e com câncer — avalia.

A cura é possível

Em contrapartida, outros tumores de alta incidência não encontram tanta facilidade de acesso a exames ou mesmo campanhas para alertar a população sobre seus riscos. O câncer de cólon é um dos que, de acordo a oncologista Ana, podem ser evitados em 80% dos casos, caso seja detectado de forma prematura por meio de exames como colonoscopia.

— Esse exame faz com que se retirem pólipos e se reduza mortalidade — afirma a médica.

Outro que é altamente mortal e não tem campanha de rastreamento tão difundida é o câncer de pulmão. Conforme a pesquisadora do Hospital São Lucas, há pelo menos dois grandes estudos internacionais que avaliaram a tomografia de baixa radiação para pessoas de alto risco para câncer de pulmão, e demonstraram benefício no diagnóstico precoce. Diz Ana:

— Mas quem seriam essas pessoas? Hoje, pacientes entre 55 e 80 anos, que fumaram uma carteira de cigarro por 30 anos, ou duas carteiras por 15 anos, e que não tenham interrompido o tabagismo há mais de 15 anos, têm critérios para realização deste exame como forma de rastreamento do câncer de pulmão. O avanço tecnológico e científico no tratamento do câncer esta cada vez mais rápido. Surgem novas drogas a cada mês, e o custo disso se torna cada vez mais alto, portanto, precisamos, além de discutir como transpor esses avanços para a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e da assistência privada voltar um pouquinho e rever o que pode ser feito antes mesmo do diagnóstico.

Educação

Tão ou mais importante do que o diagnóstico precoce é a educação da população em relação à saúde como um todo. Além de impactante, custa bem menos do que um tratamento de última geração. E uma das maneiras mais eficazes de educar a população é justamente por meio das ferramentas que ajudaram Clarisse: organizações de médicos e pacientes que se unem pela causa.

— Os pacientes têm de ser seus próprios defensores e precisam conhecer sua doença. Eles necessitam buscar apoio e cobrar dos médicos informação. Mas pode-se questionar: isso é responsabilidade do paciente? Sim. Infelizmente a gente não pode contar que o sistema de saúde esteja preocupado comigo. Estamos em uma realidade na qual só tem chance de cura quem procura ajuda rápida e não se conforma de ficar nas filas esperando — pontua a mastologista Maira, que também é presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA).

Para girar a engrenagem é preciso que todas as pontas do sistema estejam alinhadas, defende Luciana Holtz, presidente e fundadora do Oncoguia:

— Ao mesmo tempo em que você educa o paciente, você precisa ter recursos disponíveis. Não adianta dizer para as pessoas fazerem a mamografia se elas vão chegar à Unidade Básica de Saúde e não encontrar esse serviço disponível. É necessário educar e ter um sistema responsivo. Isso é fundamental para fazer diagnóstico precoce de câncer no Brasil.

Como rastrear

Embora os especialistas apontem que os números do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) possuem déficits, são esses dados que embasam as políticas de combate e o próprio cenário atual do câncer no país. De acordo com o instituto, para 2018, esperava-se uma maior incidência dos tumores de próstata, mama, traqueia, brônquio e pulmão e cólon, nessa ordem. Em comum, todos esses podem ser rastreados antes de atingirem um estágio mais avançado (o termo “rastreamento”, usado pelos médicos, é o acompanhamento por meio da realização de exames em pessoas sem sintomas).No entanto, há algumas divergências entre as orientações das sociedades médicas e aquelas repassadas pelo Ministério da Saúde.

A mastologista Maira Caleffi destaca que, apesar das recomendações do governo, a população em geral precisa tomar conhecimento de que o câncer afeta, sim, pessoas mais novas. De acordo com o Inca, o rastreamento do câncer de mama se dá com uma mamografia a cada dois anos quando a mulher tem entre 50 e 69 anos. Essa é a recomendação pública – o que não deve fazer com que as mulheres pensem que abaixo dos 50 não tem câncer. Veja o que preconizam as principais entidades médicas:

CÂNCER DE PRÓSTATA – A Sociedade Brasileira de Urologia indica que homens a partir de 50 anos procurem um médico para avaliação individual. Pessoas da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O Ministério da Saúde recomenda o rastreamento apenas para aqueles que tenham sintomas.

CÂNCER DE MAMA – A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a mamografia anual a partir dos 40 anos. Pacientes com casos de câncer de mama e/ou ovário na família (mãe, irmã ou filha) precisam iniciar o rastreamento mais cedo, conforme orientação médica. Já o Ministério da Saúde preconiza mamografia de rastreamento para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.

CÂNCER DE PULMÃO – Fumantes ou ex-fumantes, pessoas com histórico de tabagismo de 30 maços por ano entre 55 e 47 anos têm recomendação para fazer o rastreamento, de acordo com a American Cancer Society. O Ministério da Saúde recomenda que pessoas com esse histórico e nessa faixa etária discutam o rastreamento com o médico. 

CÂNCER DE CÓLON – As orientações da Sociedade Brasileira de Coloproctologia são de iniciar o rastreamento a partir dos 50 anos para pessoas assintomáticas através de exames do sangue oculto nas fezes uma vez por ano e retossigmoidoscopia anual ou bianual. Indivíduos que fazem parte do grupo de risco aumentado e que tenham sintomas intestinais devem iniciar o rastreamento o quanto antes. Já aqueles com histórico pessoal ou familiar de câncer do intestino, do ovário, endométrio, de mama ou tireoide devem iniciá-lo aos 40.

 

Fonte: GaúchaZH, 09/08/2019

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