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Mudanças vêm das pessoas, não do vírus

Passado mais de um mês desde a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, está mais do que clara a complexidade desta crise e a infinidade de decisões difíceis que precisam ser tomadas. É natural que em um primeiro momento recursos e atenção pública estejam direcionados para questões imediatas como o distanciamento social, fundamental para o combate da doença, o levantamento de infraestrutura necessária para receber pacientes mais graves e medidas econômicas. 

Ainda que fiquemos com a sensação de que o mundo parou, a vida continua com efeitos colaterais da pandemia. Para pacientes de câncer isso significa uma atenção redobrada nos cuidados e impactos no seu tratamento. Estudo apresentado na ASCO, principal congresso de oncologia no mundo, estimou que há mais de 44.642 mulheres com câncer de mama metastático no Brasil. O câncer não para. Segundo o INCA, estimam-se que 66.280 casos novos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. Como nos adaptaremos em um cenário mais desafiador em recursos humanos e financeiros, acrescentando fator isolamento?  

Nas últimas semanas, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) publicou um guia clínico para gestão dos pacientes oncológicos. O documento reforça que apesar de não ser prioridade como a pandemia do coronavírus, serviços oncológicos precisarão continuar a prestar assistência, além de alertar para a possibilidade de que instalações serão comprometidas, devido a uma combinação de fatores, incluindo contaminação da equipe médica e escassez de recursos. 

Devemos procurar as melhores soluções locais, alinhadas às orientações do Ministério da Saúde, para garantir o atendimento aos casos urgentes e não deixar desassistidos os demais casos. A sobrecarga é um problema imediato, porém seus impactos serão percebidos também no médio e longo prazo. Para enfrentar esse cenário, precisamos de critérios que determinarão o que é ou não urgente. Não estamos falando apenas de casos clínicos, mas de centenas de milhares de pessoas com angústias compreensíveis em uma pandemia.

A FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) tem recebido diariamente relatos de pacientes que estão completamente perdidas no sistema ou que não conseguem informações claras de como será seu tratamento nas próximas semanas. Por telefone a espera é enorme e não traz alívio, enquanto muitas vão ao hospital sem necessidade e correndo o risco de se contaminar. Mais uma vez, o cuidado vai além de garantir uma sessão de quimioterapia. Os médicos e profissionais da saúde têm a enorme responsabilidade de priorizar casos urgentes e, também, de tranquilizar as pacientes em estágios menos agressivos ao informar que sua vida está segura, ainda que adie consultas ou exames. Para isso, espera-se uma organização uniforme das informações e de lideranças que estejam atentas e comprometidas em evitar o retrocesso no atendimento oncológico.

Temos que garantir os avanços conquistados nos últimos anos, resultado do diálogo contínuo entre as diferentes esferas do governo, sociedade civil e comunidade médica. Só por meio de uma rede intersetorial, com orientações federais claras baseadas em evidências científicas e adaptações locais, será possível gerenciar a sobrecarga do SUS, apoiar médicos na sua missão e garantir a segurança dos pacientes. 

Em carta aberta, o Conselho Nacional de Saúde recomendou a criação ou inclusão em Gabinete de Crises Emergenciais do Ministério da Saúde de órgãos e instituições públicas, acadêmicas e representantes da sociedade civil para construção de uma rede de suporte capaz de dar resposta comunitária à epidemia no país; e a FEMAMA se coloca à disposição para compartilhar experiências e dados das 70 ONGs associadas pelo país. 

As crises podem trazer o pior e o melhor da sociedade. Mas não podemos nos enganar: a mudança não vem da trágica pandemia do novo coronavírus, mas sim da união de esforços, solidariedade e da razão das pessoas. Precisamos acreditar que elas, cada qual já lutando a sua própria batalha, também são capazes de tomar decisões que beneficiem a coletividade. 

*Dra Maira Caleffi é presidente voluntária da FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) e Chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento e Líder do Comitê Executivo do City Cancer Challenge Porto Alegre

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